Seu filho está com fome emocional? Entenda o que fazer
Se por um lado existem as crianças que têm dificuldade para comer, por outro, há aquelas que pedem comida o dia inteiro. E esse comportamento parece ter ficado ainda mais crítico por conta da pandemia causada pela Covid-19, que resultou em muitas crianças em casa por mais tempo.
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com outras instituições do Brasil, desenvolveram um estudo justamente para entender os impactos da pandemia no comportamento de crianças e adolescentes.
Após entrevistarem quase quatro mil pessoas, o resultado parcial da pesquisa mostrou que 51% das crianças estão comendo mais durante esse período, sendo que quase 72% delas estão sedentárias.
Além de ter os alimentos à disposição no armário, o que faz com que muitas delas deem várias “beliscadas” ao longo do dia, o próprio distanciamento e a mudança brusca na rotina tendem a deixarem os pequenos mais ansiosos e descontando na comida os sentimentos.
Quebrando o ciclo vicioso da comilança
Diante disso, o que fazer para quebrar o ciclo vicioso dos “assaltos” à geladeira e ao armário? A primeira mudança deve ser no comportamento de compra dos adultos da família. Afinal, a criança não vai devorar um pacote de bolacha recheada se ele não fizer parte da despensa.
“Evite comprar alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados ou sem recheio, salgadinhos, refrigerantes, doces, macarrão instantâneo e bolos industrializados. Além de serem desbalanceados nutricionalmente, esses alimentos não dão saciedade. Então, logo que a criança acaba de comer, ela já quer comer novamente”, recomenda a nutricionista Giovanna Oliveira, membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF).
Em vez disso, opte por incluir mais alimentos “in natura” ou minimamente processados na rotina das crianças. Dessa forma, ela irá consumir automaticamente mais fibras, gorduras boas e proteínas, que dão muito mais saciedade também.
Planejamento é outro ponto fundamental para evitar que a criança coma “besteiras” o dia todo. É bem provável que os responsáveis também estejam passando mais tempo em casa durante a pandemia, em trabalho remoto, por exemplo. E com um pouco de planejamento, os pais podem se organizar para o preparo das refeições, priorizando alimentos saudáveis.
“Para as crianças, isso é ainda mais importante, pois quando participam do processo de preparo do alimento, criam uma relação saudável com a comida. Sendo assim, não hesite em levar seu filho para ajudar na cozinha. Eles adoram fazer parte e isso pode até contribuir que aceitem melhor alguns ingredientes que antes não gostavam”, ressalta a nutricionista.
Mudando os hábitos alimentares
Claro que a mudança de hábitos não acontece da noite para o dia. Mas o segredo está na constância, persistência. Pouco a pouco, com a mudança de um pequeno comportamento diário, daqui a um mês os pais já poderão notar algumas melhoras que trarão orgulho por terem seguido por esse caminho mais saudável.
Lembre-se também que os pequenos tiveram suas atividades físicas mais restritas durante a pandemia. Daí a importância de reservar um período diário para colocar o corpo em movimento. E não precisa de muito, não! Até mesmo dentro de casa dá para brincar de pega-pega, concurso de dança ou brincadeiras que façam as crianças se movimentarem.
E, por fim, o conselho da nutricionista é: tenha empatia. “As crianças tiveram suas rotinas completamente afetadas e provavelmente não compreendem bem o que está acontecendo. Elas sentem falta dos amigos e de brincar na escola, portanto, estejam abertos ao diálogo com os filhos. Mostre que ficar triste ou sentir medo é normal e tudo bem demonstrar esses sentimentos. Esteja verdadeiramente disposto a escutar e dizer que não estão sozinhos e tudo ficará bem.”
Quando a fome é emocional
Vale estar atento à chamada fome emocional, que geralmente é caracterizada pela necessidade de comer algum alimento específico, em grandes quantidades mesmo já estando saciado. Um bom indicador também pode ser o seguinte: na fome emocional, quando a criança se distrai com alguma atividade, a fome desaparece. Já se a fome for física, ela não irá desaparecer.
“Quando se come devido a um estado emocional, busca-se na comida o conforto para o sentimento que surge. E claro, não funciona, pois outros sentimentos negativos podem surgir ao se ter um comportamento compulsivo”, alerta a neuropsicopedagoga Priscila de Moraes, coordenadora pedagógica da Escola do Futuro.
A especialista reforça que as crianças costumam apresentar um padrão de comportamento, que se mantém de acordo com os estímulos e o ambiente. E observar qualquer mudança nesse padrão pode ajudar a identificar se está surgindo uma situação que incomoda a criança e ela não sabe lidar.
“Se mesmo após conversar com a criança de acordo com o que ela entende, estabelecer uma rotina de alimentação, propor combinados e atividades físicas não houver uma resposta positiva, vale procurar ajuda individual e especializada”, conclui Priscila.