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Como lidar com birras?

É dia de compras no supermercado e o seu filho vai junto com você. No meio do passeio, algum produto chama a atenção do pequeno, que decide levá-lo pra casa a todo custo. Pede, mas, se ouve um “não”, chora, esperneia e grita. A situação, embora nada agradável, é bastante comum entre as famílias. E ela ilustra bem um caso de birra. O problema, contudo, é que deixa os pais em uma situação embaraçosa (especialmente quando tem plateia!): o que fazer nessas horas? Como lidar com birras?

O episódio do supermercado é muito ouvido no consultório da psicóloga infantil Beatriz Astolphi (SP). Em especial dos 2 aos 4 anos – a profissional explica –, a temida birra pode dar as caras. Mas apesar de muitos pais encararem o comportamento como um problema, ele nada mais é do que uma etapa do desenvolvimento socioemocional. Nem todo mundo vai vivenciá-lo, mas boa parte sim. O ideal, portanto, é estar preparado.

 

Primeira birra: o que fazer?

A psicóloga explica que a partir do segundo ano de idade a criança está deixando de ser um bebê. Mas ela tampouco entende o que sente, por isso pode acabar respondendo uma frustração com birra. “Nessa fase, ela ainda está desenvolvendo recursos e repertórios para entender os diferentes tipos de sentimento e ter uma resolução de problemas. Então ela usa os recursos que tem, como o choro (que já vem da comunicação do bebê), o ato de se jogar no chão, os gritos, os acessos de agressividade (como bater e morder). Geralmente são esses comportamentos que aparecem no que chamamos de birra, e eles acontecem quando a criança é frustrada, quando ela não consegue algo que ela quer”, pontua.

Para os pais aprenderem como lidar com birras, vale, primeiro, entender que esse comportamento não é proposital. “Muitas vezes a própria criança não vai conseguir identificar o que é isso”, afirma Beatriz. Lembre-se dos primeiros meses com o seu bebê: as necessidades do pequeno eram comunicadas por meio do choro e atendidas. Com dois anos ou mais, a criança vai querer mais coisas além de colo e leite – e se esses desejos não são solucionados? Daí ela se incomoda e expressa, da maneira como ela sabe, essa frustração.

Mas tenha paciência. “No geral, a criança ainda tem dificuldades de entender o que não pode e por quê, então ela pode começar uma crise de birra sem nem conseguir identificar o que está incomodando ou saber explicar esse desconforto”, esclarece a psicóloga. É por isso que brigar ou tentar explicar não adianta, pois a criança não vai compreender.

O que funciona de verdade é o acolhimento. “Os pais têm papel fundamental no controle da birra. Não temos como impedir que a raiva ocorra, mesmo porque a criança ainda não tem controle em relação aos seus sentimentos. O sentimento pode ocorrer, mas o comportamento precisa sofrer a intervenção do adulto responsável: acolher, ouvir, abraçar quando possível, esperar a criança se acalmar e depois conversar e nomear os sentimentos. Construam juntos soluções para resolver a situação”, orienta a psicopedagoga Maria Cecília Marchiori (SP).

Encarando a birra
  • Para acalmá-la, fique na altura dos olhos da criança. Se necessário, agache-se ou sente no chão;
  • Use palavras reconfortantes para acolhê-la: “Calma”, “O que está incomodando?”;
  • Mude o foco: se ela quer um objeto que não pode, ofereça outro brinquedo e mostre o quanto ele é divertido;
  • Se a birra ocorrer no supermercado, invente distrações: “Me ajuda a pegar os pães?”, ou “Vou te erguer para você pegar aquele pacote para mim”;
  • Compartilhe com o seu filho situações parecidas que você viveu quando era criança.

A regra de ouro ao aprender como lidar com birras

Não ceder. “Os pais devem manter-se consistentes nas regras e combinados, é a parte mais difícil, mas necessária”, atesta Maria Cecília. Beatriz reforça a fala da colega: “Lidar com a birra exige um jogo de cintura dos pais para conseguir captar a atenção da criança e pensar em estratégias que mudem o foco, mas é muito importante que não cedam.”

Calma aí!

Às vezes não é só as crianças que ficam nervosas: os pais e cuidadores também podem se estressar diante de uma manifestação de birra. A recomendação dos especialistas é que, garantindo que a criança esteja em um local seguro – que não ofereça riscos, onde ela não possa se machucar –, o adulto se afaste para tentar se acalmar. Depois que o nervosismo passar, daí sim, volte, acolha e tranquilize o pequeno.

Não dá para evitar, mas é possível se preparar

Como explicou a psicopedagoga Maria Cecília Marchiori, não temos como impedir o surgimento da raiva que possa levar a episódios de birra. Contudo, com o tempo, pais e cuidadores podem antecipar essas situações e se preparar melhor para enfrentá-las. Beatriz explica: “Entendendo os momentos em que geralmente a criança manifesta a birra, dá para pensar em estratégias antecipadamente. Viu que ela está se dirigindo a um brinquedo que não pode brincar? Antes que ela vá atrás dele, redirecione sua atenção”.

Reforçando a prática
  • Mantenha-se firme no “não”. Regras que já foram estabelecidas não devem ser quebradas por um comportamento de birra, para não reforçá-lo;
  • Deixe claro que o problema está no comportamento, e não na criança. Dizer “não gostei do que você fez” é melhor do que “você é birrento”. Estigmas podem afetar a autoestima.
  • A regra do “deixar chorar” não resolve para que a criança aprenda a lidar com a situação. Ao invés disso, acolha.
Vale procurar um profissional?

Depois dos 4 anos, segundo a psicóloga Beatriz Astolphi, não é mais esperado o comportamento de birra, uma vez que a criança já desenvolveu recursos para aprender a lidar com a frustração. Contudo, em casos em que a criança consegue o que quer ou atrai a atenção dos pais por meio da birra, o comportamento pode persistir por mais tempo. “O problema é que, com a criança mais velha, as crises podem ser mais intensas e difíceis de manejar, o que torna o processo mais difícil. Se persistir, vale procurar um profissional”, orienta.
Psicólogos, educadores e psicopedagogos podem ajudar no processo de como lidar com birras.