O que são os saltos de desenvolvimento do bebê?

As novas descobertas podem mudar a rotina e o comportamento dos pequenos. Entender quando e como elas acontecem contribui para que os pais ofereçam todo o suporte necessário.

O seu bebê que dormia direitinho, estava adquirindo uma rotina para se alimentar e até uma certa autonomia, de repente se vê agitado, não quer mais saber de dormir, comer e demanda bem mais de você… Já presenciou algo parecido? Caso sim, saiba que o seu pequeno passou por um dos chamados saltos de desenvolvimento do bebê.

Embora na literatura científica não exista nenhum registro sobre o assunto, o termo é comumente empregado por pais e pediatras para se referir aos momentos em que os pequenos adquirem novas habilidades. A questão é que as descobertas mexem tanto com eles, que vários aspectos da sua rotina acabam sendo impactados.

“Imagine que amanhã você irá fazer algo novo, como, por exemplo, saltar de paraquedas ou voar de asa delta. É natural que ao final dessa conquista você fique excitado, agitado, durma mal, tenha sonhos e até pesadelos. A vida do bebê é feita de novas conquistas, de ‘saltos de asa delta’ a cada dia, semana ou mês”, ilustra o pediatra Paulo Telles (SP).

A pediatra Francielle Tosatti (SP) completa: “Podemos concordar que aprender uma nova habilidade é algo muito excitante, certo? Para o bebê também, e por isso gera uma certa ansiedade nele, que deseja conquistar logo essa habilidade! Além disso, nessa fase ocorre um amadurecimento neurológico e o bebê passa então por um período adaptativo no qual é comum observarmos alterações de sono, humor e apetite”.

Desde enxergar melhor e pegar objetos até a conquista dos primeiros passos e palavras, tudo é novidade para o bebê. “E cada marco novo será um momento diferente de agitação e novidade”, acrescenta Paulo.

E quando os saltos de desenvolvimento do bebê acontecem?

Primeiro é importante pontuar que não existem regras: o período em que os saltos ocorrem podem variar e nem todos os bebês passam por eles. O pediatra e intensivista Eduardo Gubert, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), esclarece que às vezes nem irmãos gêmeos apresentam comportamentos iguais nesse aspecto.

Mas, no geral, é mais comum que especialmente nos meses múltiplos de três aconteçam regressões referentes aos saltos de desenvolvimento do bebê. “É que nesses momentos, principalmente no primeiro ano de vida, acontecem várias conquistas motoras para a criança”, explica o médico.

Por exemplo, com três meses, aquele bebê que ainda não interagia muito bem agora sorri, gargalha, olha e reconhece os pais. Aos seis meses, a criança já senta sozinha, a introdução alimentar é iniciada. Com nove meses, alguns engatinham.

“Então, uma criança que ficava sentada no mesmo lugar começa a explorar e interagir com o ambiente, e isso também pode ser entendido como um salto de desenvolvimento”, coloca Eduardo. Por fim, com um ano, há crianças que já ameaçam as primeiras palavras – é a fase do “mamá”, “papá”. Um turbilhão de descobertas, não é mesmo?

Como reconhecer

Os sinais mais comuns de que o bebê está passando por um salto de desenvolvimento são as já citadas alterações de sono, apetite e humor. “Geralmente é quando há uma grande mudança comportamental na criança, principalmente percebida pelos pais no sono, sem ter uma justificativa de doença, orgânica para isso, como uma febre, uma vacina, um dente nascendo”, acrescenta Eduardo.

Mas assim como a frequência, os sinais tampouco obedecem a regras. “As alterações de sono, humor e apetite não são obrigatórias em um ou todos os saltos do desenvolvimento, mas são uma forma de nos tranquilizar, compreender o que o bebê está passando e até mesmo ajudá-lo na conquista daquela habilidade que está chegando”, pontua Francielle. “De forma geral, é comum que durante um salto o bebê solicite mais a presença da mamãe, queira mamar mais vezes e tenha seu padrão de sono bagunçado, mas não se preocupe, passado o salto tudo volta à rotina normal”, completa.

Para ajudar a identificar um possível salto de desenvolvimento, o acompanhamento pediátrico pode contribuir. “É o pediatra que irá aconselhar e acompanhar todas essas etapas garantindo que não haja quaisquer motivos de preocupação”, coloca Francielle.

Suporte e afeto

Além das consultas periódicas no pediatra, cuidados em casa podem ajudar a lidar com os saltos de desenvolvimento do bebê e suas mudanças no comportamento do filhote. E o primeiro deles é a paciência. “Um período de salto pode ser muito exaustivo para todos, por isso, paciência, afeto e amor são as palavras-chave”, destaca Francielle.

Nesse cenário, a médica também coloca a importância do trabalho em equipe, sugerindo que os cuidados com o bebê e a casa sejam revezados, para não sobrecarregar ninguém! A compreensão com o filhote e com o companheiro são igualmente importantes.

E em um período de tantas descobertas, é preciso mostrar aos pequenos com quem eles podem contar. “Os pais devem ser aqueles companheiros que dão suporte, afeto e carinho e tornam essas novidades menos duras e difíceis”, salienta Paulo. “E quanto mais tranquilos e seguros os pais estiverem, menos o bebê sofrerá. Estimular a resiliência e ser resiliente ajuda muito”, completa.

Dá para aliviar?

As mudanças de comportamento resultantes dos saltos de desenvolvimento do bebê podem até ser uma espécie de loteria – nunca sabemos quem elas poderão atingir, quando e com qual intensidade –, contudo, na lista de previsões também vale incluir um cuidado básico: a rotina. “Quanto mais ajustada for a rotina, certamente teremos um salto menos sofrido, que bagunçará e agitará menos o bebê e a família”, atesta Paulo.

A precaução também é válida para que as coisas voltem ao normal caso o bebê passe, por exemplo, a demandar mais de madrugada ou se recusar a comer por conta de um salto. “Se mantiver uma boa rotina mostrando que as coisas vão acontecendo nos horários próximos todos os dias, ele retoma a rotina, volta a dormir bem, a comer na hora certa”, esclarece Eduardo. “Os bebês são adaptáveis e gostam de voltar à rotina”, afirma.

Os saltos de desenvolvimento do bebê

Eles podem ocorrer desde o nascimento até os 2 anos e acompanham as novas aquisições de desenvolvimento. Entre as principais habilidades adquiridas por período estão:

• 1 mês: Mudanças na visão, fixa o olhar.
• 2 meses: Aprende a mexer os pés e as mãos.
• 3 meses: Se vira em direção aos sons, sorri, segura e mexe o pescoço.
• 4 meses: Pode começar a rolar e se arrastar, inicia vocalização e gritos.
• 6 meses: Pode começar a sentar sem apoio, vendo o mundo de outra perspectiva.
• 7 meses: Quer sempre companhia.
• 8-9 meses: Reconhece objetos e sabe usá-los. Aprende a categorizar as coisas.
• 11-12 meses: Passa a brincar com objetos, se espelha nos adultos, imita gestos.
• 14-15 meses: Compreende coisas mais complexas, aprende a negociar e passa a reconhecer algumas emoções. Inicia a habilidade de andar.

Pode pintar insegurança!

Durante um salto de desenvolvimento, também é comum que o bebê se sinta inseguro, o que pode explicar as alterações de comportamento e o fato de demandar mais dos pais, que são responsáveis por acolher e oferecer um ambiente seguro aos pequenos.